Dois de Maio de 1968
- des-iguais
- 2 de mai. de 2020
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O Movimento de Maio de 1968 é a denominação atribuída a um conjunto de protestos e reivindicações que ocorreram em França, no final da década de 60, e que se repercutiram a nível internacional - um pouco por toda a Europa e noutros países desenvolvidos desde os EUA ao Japão. Começando por ser uma manifestação estudantil - que pretendia reformas no sistema de educação -, os eventos rapidamente evoluíram rumo a uma greve geral que mobilizou cerca de dez milhões de trabalhadores e que resultou na demissão do presidente francês, Charles De Gaulle.
O aumento da população estudantil francesa, num espaço de dez anos, que quase triplicou, e a relevância e importância dos jovens nos movimentos internacionais de contracultura entraram em choque com os sistemas de valores autoritários, tradicionais e patriarcais que controlavam a França (a nível político e social). Esse sentimento de repressão ideológica, aliado ao facto de De Gaulle estar no poder há nove anos, fez esta geração acreditar que estava sob um governo ditatorial – visto que os principais partidos da oposição atravessavam, na altura, várias crises e dificuldades. Não acreditando que a mudança surgiria normalmente, por meios democráticos, os estudantes foram buscar inspiração aos diversos movimentos guerrilheiros, que ganhavam notoriedade na sua luta contra os diferentes regimes de poder.
Estando em disputa com a direção da universidade desde 1967, os universitários de Paris organizaram vários protestos contra o sexismo, a discriminação, o consumismo e o capitalismo. Durante os primeiros meses de 1968, foram vários os estudantes detidos em inúmeros ataques e manifestações. As várias e recorrentes ocasiões de confronto e desacordo resultaram no encerramento da Universidade Nanterre, nos arredores da capital francesa, no dia 2 de maio, e na ameaça de expulsão dos supostos líderes da rebelião.

Ganhando a adesão e o apoio dos alunos da Universidade Sorbonne, os protestos atingiram dimensões inimagináveis, fazendo com que o reitor desta instituição recorresse ao auxílio das autoridades para retirar as centenas de jovens do campus. A CRS – Compagnies Républicaines de Securité – respondeu com violência e detenções em massa e uma segunda universidade parisiense encerrou portas no espaço de dois dias: o que motivou os estudantes e conferiu maior importância ao movimento, que pouco tempo depois contou com a colaboração do Partido Comunista Francês e de diversos sindicatos.
No dia 10 de maio - em que a violência viria a intensificar-se, com a famosa "noite das barricadas"-, os estudantes de várias escolas secundárias aliaram-se aos universitários, formando uma multidão de cerca de vinte mil indivíduos. Exigindo a libertação dos colegas e reivindicando alterações na educação, os jovens começaram a erguer várias barricadas, até às duas da manhã – hora em que a polícia recebeu ordens para as destruir. Ao amanhecer, quinhentos manifestantes tinham sido presos e centenas precisavam de cuidados médicos.
A transmissão dos acontecimentos através dos média conquistou a atenção do público que se solidarizou com os pedidos de reforma educacional e rapidamente ampliou o movimento, de modo a incluir exigências em mudanças no sistema político autoritário. Após os episódios de Maio de 1968, a sociedade francesa sofreu várias reformas – ainda que não exatamente equivalentes às propostas pelos estudantes – e abriu portas para a discussão de outras temáticas, entre as quais os direitos da comunidade LGBT, a sustentabilidade e defesa do feminismo, o que contribuiu para uma crescente emancipação das mulheres.

O envolvimento das mulheres nestes eventos foi constante e essencial, pois, para elas, a luta englobava também a reivindicação da liberdade sexual e igualdade no mundo do trabalho, sendo que uma das fotografias mais emblemáticas das manifestações é a “Marianne de 68”, devido às suas semelhanças com a pintura La Liberté guidant le peuple.
A primavera de 68 abriu as portas à criação dos inúmeros movimentos feministas que nasceram na década seguinte, tendo sido considerado o ponto de viragem a partir do qual a Mulher começou a exercer controlo e independência na sua vida e nos vários papéis sociais que desempenha.
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